Luxação de Patela em Cães
- Prof. Danilo Marques
- 15 de mai. de 2015
- 4 min de leitura
A patela é osso sesamóide localizado no tendão do músculo quadríceps da coxa, sua superfície articular é lisa e côncava para melhor se articular com a tróclea femoral. Para o bom funcionamento do mecanismo extensor da coxa, formado pelo músculo quadríceps, patela, sulco troclear, ligamento reto patelar e tuberosidade tibial são fundamentais que a patela esteja sobre a tróclea femoral para proporcionar estabilidade à articulação e proteja o tendão do quadríceps da fricção com o fêmur durante a movimentação do membro.
A luxação de patela é uma doença muito comum no joelho do cão. Essa doença pode ser de origem congênita, maioria doa casos ou de origem traumática.
A luxação medial é a mais comum em cães de raças toy e pequenas e a luxação lateral em raças grandes. Quanto mais tempo a patela permanece luxada maiores serão as deformidades angulares.

Figura 1. Patela localizada em sua posição anatômica, isto é, sobre a tróclea femoral.
Figura 2. Patela está fora da tróclea femoral, portanto apresenta-se luxada.
Entre as raças predispostas à luxação de patela medial são Poodle, Lhasa Apso, Shih Tzu, Yorkshire Terrier, Chihuahua, Pomerânia, Pequinês e Boston Terrier.
A luxação de patela pode ocorrer em qualquer idade, mas com maior predisposição em cães com menos de dois a três anos de idade, com uma maior predisposição em fêmeas que machos.
O sinal clínico está relacionado com o grau da luxação patelar, portanto quanto maior for o grau da luxação mais evidente são os sinais clínicos. A claudicação intermitente, impotência funcional do membro e deformidades angulares são os mais observados.
O diagnóstico pode ser feito com base nos sinais clínicos e no exame físico do membro afetado e consiste, nos casos leves, em colocar o animal em decúbito dorsal, estender o membro pélvico e imprimir pressão médio-lateral sobre a patela, que, em condições normais, não pode sair de seu sulco troclear. Nos casos severos, a patela já se encontra luxada e pode ser localizada, por palpação, no aspecto medial da articulação. O exame radiográfico, realizado nas projeções craniocaudal, lateral e “skyline” (joelho flexionado), não são necessários para se firmar o diagnóstico, mas é importante para determinar as deformidades ósseas, a profundidade do sulco troclear e o grau de degeneração articular.
A luxação de patela pode ser classificada em quatro graus. No grau I é observado apoio normal do membro, patela localizada no sulco troclear mas luxa-se a patela no no exame fisico. No grau II observa claudicação discreta ou intermitente com alívio discreto do suporte de peso no membro, patela luxa no exame físico, mas volta a tróclea, mínima rotação da tuberosidade tibial até 30 graus. No grau III a patela se apresenta fora da tróclea femoral (luxada) mas a mesma volta na sua posição no exame físico, observado claudicação moderada com alívio do suporte de peso no membro e roração da tuberosidade tibial de 30 a 60 graus; grau IV é observado patela luxação que não é possivel voltar na sua posição anatômica no exame físico, animal toca o solo com as pontas dos dedos ou ausência de apoio, deformidade angular do membro, rotação da tuberosidade tibial em 60 a 90 graus.
Em animais jovens a intervenção cirúrgica deve ser realizada o mais breve possível para evitar acentuadas anormalidades ósseas, torsionais ou angulares, secundárias a forças anormais dirigidas contra uma placa fisária aberta, em particular a do fêmur distal.
O tratamento é cirúrgico e depende do grau da luxação, sendo divididos em procedimentos de reconstrução dos tecidos moles e ósseos. Entretanto o objetivo de todas as técnicas são fazer com que a patela fique na sua posição anatômica durante toda a amplitude do movimento, isto é, sobre a tróclea do fêmur.
As técnicas de reconstrução dos tecidos moles (desmotomia medial, sobreposição da fáscia lata, sutura anti-rotacional e liberação do quadríceps) e, nos casos severos, há necessidade também de atuar sobre os tecidos ósseos (artroplastias trocleares, transposição da crista tibial, osteotomias femoral ou tibial). Dependendo do grau da luxação patelar é necessário a associação de técnicas.
A trocleoplastia é a técnica mais utilizada para o tratamento da luxação de patela e consiste no afundamento da tróclea que pode ser apresentar de forma rasa ou convexa. Essa técnica permite o aprofundamento da tróclea femoral com auxilio de limas, goivas ou serra elétrica e fazendo a patela ficar nesse novo sulco.
A transposição da crista da tíbia ou transposição da tuberosidade tibial consiste em realizar uma osteotomia na crista da tíbia para proporcionar o alinhamento entre a patela e a tróclea femoral. Essa técnica é utilizada principalmente em luxações grau III e IV.
A técnica de sutura anti-rotacional da tíbia impede que haja rotação interna desse osso e de sua crista, o que, inevitavelmente, promoveria o desloca do ligamento retopatelar e, conseqüentemente, da patela para o aspecto medial da articulação. Para a realização dessa técnica, fio inabsorvível é aplicado da fabela lateral até a crista tibial, ou mesmo sobre o ligamento retopatelar distal, nesse momento, o membro deve estar em sua posição anatômica e a tíbia deve sofrer máxima rotação externa.
As técnicas de osteotomias femorais e tibiais são realizadas em casos de alterações angulares, geralmente são as luxações de grau IV. Essas técnicas visam o alinhamento entre fêmur, tíbia e patela.
No pós-operatório são utilizados analgésicos, antimicrobianos, anti-inflamatórios, bandagem acolchoada por três dias para evitar a formação de serona e proporcionar conforto ao paciente. As principais complicações observadas são deiscências de pele, seroma, osteomielite, não consolidação da crista da tíbia quando utilizado a tecnica da transposição da crista tibial. Mas a principal complicação é a luxação ocorrente, sendo observado em até 30% dos casos.
As luxações mediais de 2º e 3º graus em cães de raças pequenas apresentam bom prognóstico. Já em cães de médio e grande porte esses mesmos graus, assim como nas de 4º grau em animais de todos os portes o prognóstico é de reservado a ruim, devido às extensas deformidades ósseas presentes.
As consequências da não correção da luxação de patela são a ruptura do ligamento cruzado cranial, lesão de menisco, alterações na articulação coxofemoral, contraturas musculares e doença articular degenerativa.
Qualquer dúvida ou sugestão de post, entre em contato comigo!
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